Um dia quis conhecer o mais fundo de ti. Mascarei-me de folha e desfiz-me em pedacinhos para o vento não refilar o peso de memórias que transporto. E lá fui eu… devagarinho, despida, sentindo o palpitar da bolinha pequenina, fria de ausência.
Cheguei perto de ti e nem tive tempo para te olhar porque, de súbito, senti uma corrente que me empurrava. Foi um turbilhão que demorou poucos segundos e só quando acabou percebi o que tinha acontecido.
Inspiraste-me.
Por momentos senti-me perdida. Mas logo me encontrei. Dentro de ti.
E veio mais uma corrente de ar que me empurrou ainda mais para dentro. No meio de tanto liquido viscoso, fui levada para o teu sangue. Vagueei por todos os teus cantos com vida. Percorri-te. Nadei com as vitaminas. Contigo. És tão grande. És tão cheio. [como pode haver espaço para mim?]
Cheguei à bolsa preenchida com ácidos, enzimas, proteínas, lipidos, glícidos e no meio daquela confusão encontrei o desespero e com força agarrei nele; levei-o comigo. Do lado esquerdo os glóbulos brancos que destruíam a angustia que teimava em entrar.
Mais ao fundo estava o amor, velho, cansado, perdido. Com jeitinho tirei a minha bolinha palpitante que me mantém viva e coloquei-a com astúcia junto do amor. Harmoniosa, a bolinha aconchegou o amor e fundiram-se.
Desfiz-me num pedacinho ainda mais pequeno e retirei um bocadinho de clorofila. Com jeitinho escrevi a palavra secreta: AMO-TE
E mais uma vez, de repente, fui levada. Não me deram tempo para me despedir de ti.
Espirraste e expulsaste-me para fora de ti.
Saí, incompleta. Ficas-te com o meu coração.
Eu sou feita de ti. Sou repleta de vestígios teus…
E assim vivo, sem coração.
Só para que fiques a saber... entreguei-to, nesse frio dia.